O Segredo do Benjamim


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Benjamim 14

14



Hoje, passados quase quarenta anos desde essa manhã, tudo tem para mim um significado novo.

Desde esse dia que vivo em função do meu segredo. Anunciei-o, testemunhei-o, proclamei-o nas praças e celebrei-o nas catacumbas. Vivo num Império em que ser cristão é crime. Em nome do meu segredo já fui preso, torturado, insultado… até que vim parar aqui. Estou nas masmorras do Coliseu de Roma à espera que se abram as portas e me mandem ir para o centro da arena onde me espera a morte nas mandíbulas de leões ou na ponta da espada de gladiadores armados até aos dentes que se colocam diante de nós, que não temos mais que a túnica do corpo. Em nome do meu segredo, vim parar aqui.

Três dias depois daquela manhã os discípulos de Jesus estavam todos reunidos, como eu tinha pedido em nome do Mestre. Mas tremiam de medo das autoridades judaicas e ainda estavam dominados pela desilusão da morte de Jesus. Mas, sem que ninguém percebesse muito bem o que tinha acontecido, eles saíram a meio da manhã para a praça pública gritando como ébrios:
- “Ele está vivo! O Amor venceu! Ele está vivo!”

Quando eu ouvi o alarido e corri ao encontro deles, o meu tio pegou-me ao colo, fez-me rodopiar no ar, e com uma alegria nunca vista dizia-me:
- “Tinhas razão, Benjamim! O Amor venceu! Jesus está vivo! Era esse o segredo… a morte não mata a Vida, apenas a transforma! Ele está vivo, ele está aqui!”

E, nesse dia, todos renasceram. Juntos relembraram tudo o que Jesus lhes tinha dito nas horas de intimidade, e à luz do nosso segredo perceberam o verdadeiro alcance e profundidade de todos os seus gestos e palavras.

Desde esse dia todos descobriram que valia a pena viver em função do anúncio e do testemunho deste segredo. E o que é válido para viver, também é válido para morrer! Por isso, desde esse dia muitos têm morrido por proclamarem o segredo da Vida.

O meu tio, que eu naquela manhã vi chorar de medo como uma criança desesperada, depois de descobrir o segredo escondido da cruz de Jesus ia anunciá-lo para o átrio do Templo de Jerusalém diante dos mesmos fariseus e sacerdotes que tinham levado o Mestre à cruz. Mais que uma vez o levaram ao Sinédrio para o amedrontar, e várias vezes o chicotearam e proibiram de proclamar o segredo da cruz de Jesus. Mas ele, animado por uma Força Nova, saía do Sinédrio com as costas marcadas e ia outra vez para o Templo anunciar o segredo da Vida.

E foi há pouco mais de um ano que ele veio parar aqui a Roma, a estas mesmas masmorras em que estou eu agora, e foi morto. Agora é a minha vez. Não vou poder anunciar mais o segredo que deu sentido à minha vida. Por isso o quis escrever.

Para que os corações generosos se apaixonem pelo lado escondido da cruz de Jesus e vivam até à loucura da morte se for preciso para o testemunhar.

Para que os olhos atentos se cravem no segredo oculto daquela tábua sobre a sua cabeça e chorem de alegria ao fazer a experiência de um amor sem limites.

Para que as vidas dos homens ganhem um sentido de plenitude, floresça nos seus corações a felicidade sem máscaras e a força dos profetas.

Porque Jesus não passou pela morte como um sobrevivente mas sim como um dador de Vida!

E quando, daqui a pouco, a grade da masmorra se abrir e eu for encontrar-me com a morte na arena, há-de encontrar-me a cantar: “O Amor venceu! O Amor venceu! O Amor venceu!”





- FIM -


1 Comentários a “Benjamim 14”

  1. # Blogger Rui

    Olá!
    Como é bom deixar que Deus e Jesus sirvam de GPS na nossa VIDA. Como é bom que o seu segredo sirva para nós como uma bússola. Como é bom olhar para dentro e conseguir-se perceber que Deus não nos abandonou, não nos abandona nem nunca nos abandonará.
    Como é bom deixar que Deus abrace a nossa vida para que esta se transforme em VIDA DE AMOR, para se viver no Amor e não se ter medo de morrer por Ele!
    Obrigado pelo teu fantástico texto.
    Cumprimentos!  

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