O Segredo do Benjamim


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Benjamim 13

13

Passados poucos minutos ouvi o som metálico de uma martelada e um grito de dor tão lancinante que julguei que eu próprio não aguentava. E outra martelada, e novo grito… e outro… e outro… e do outro lado… E eu chorava como nunca.

Os gritos de Jesus penetravam-me por todos os poros do corpo e parecia que quase me matavam a mim. Ele nunca tinha feito gritar ninguém… Porque lhe faziam isto?!

Amarraram cordas compridas à trave em que Jesus já estava pregado pelos pulsos e, passando-os pelo topo do poste vertical, começaram a levantar Jesus. Jesus gritava ainda mais a cada esticão que davam. Todo o peso do seu corpo doía nos pulsos cravados. Eu estava incapaz de qualquer reacção. Há momentos em que o nosso corpo fica impotente… Quando chegou a meio do poste, fixaram-no, largaram as cordas e voltaram a pegar no martelo e nos cravos. Pregaram-lhe os pés ao poste, sem sequer se darem conta dos seus gritos ou repararem no sangue que lhes manchava as mãos. E depois pegaram na tábua com o motivo da condenação, que estava no chão, e deram-na a um que ainda estava no cimo de uma escada, que a pregou acima da cabeça de Jesus. E ninguém reparou no nosso segredo… Ninguém reparou que aquela cruz era diferente, tinha um lado escondido para ser revelado apenas aos corações atentos e disponíveis…

E, num momento, parece que o mundo ficou mergulhado numa redoma de silêncio. Acabaram-se as marteladas, os gritos, a confusão… A multidão começou a dispersar-se, a maior parte dos soldados foi embora levando consigo os seus instrumentos de morte. Apenas ficaram alguns para impedir que alguém se aproximasse das cruzes.

Jesus fechara os olhos. Pendia-lhe a cabeça, mas sabia que não estava morto porque via o seu peito a respirar com dificuldade e ouvia-o gemer. O pior já tinha passado. Agora era só esperar…

Três condenados crucificados, um grupo de soldados, e eu, frente a frente com Jesus, esperando que ele abrisse os olhos a qualquer momento para que visse que eu ainda não me tinha ido embora. Passado um pouco, abriu um bocadinho os olhos, o suficiente para me ver, e num esforço atroz sussurrou-me do alto da cruz:
- “Fiel até ao fim, Benjamim! Mas não esperes mais… vai contar o nosso segredo ao teu tio Pedro. Diz-lhe para se reunirem os meus outra vez, e conta-lhes o nosso segredo. Eles compreenderão… Deus lhes dará a Luz para compreenderem, a Força para acreditarem e a Fidelidade para continuarem a seguir-me. Vai, Benjamim!”

Quando acabou de sussurrar isto, o peito de Jesus começou a agitar-se muito, parecia que sufocava, e depois de um gemido mais forte…

Eu já não tinha mais lágrimas para chorar. Além disso, pressentia que, afinal, nada terminara ali. A cruz de Jesus tinha uma face escondida, e eu tinha recebido da sua boca a missão de revelar o seu segredo.

Voltei para casa, devagar, passando mil vezes na minha cabeça as imagens daquela manhã, chutando as pedras do caminho ainda marcado pelo rasto de sangue que Jesus deixara atrás de si.

Mas levava comigo o meu segredo…

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