O Segredo do Benjamim


Benjamim 11

11


Enquanto íamos falando, ouvíamos os gritos de dor daquele que estava já a ser pregado e preparado para ser içado. Enquanto falava comigo, Jesus ia fechando os olhos a cada grito, mas não parava de me falar, como se eu fosse o mais importante para si naquele momento. De repente, deitei a minha cabeça sobre o peito de Jesus, esquecido do suor e do sangue, e comecei a chorar com os braços a rodear-lhe o tronco:
- “Jesus, por favor, não morras…”

Jesus, sem se poder mexer por ter os braços amarrados, começou a falar-me. Com o ouvido encostado ao seu peito, sentia que todas as suas palavras brotavam directas do coração, como a água fresca goteja da nascente:
- “Benjamim, acredito na Vida! Sei que o amor não se pode calar e a verdade não se submete aos pés de uma cruz. Estou a momentos da morte, mas não consigo deixar de acreditar na Vida! Porque não duvido da fidelidade do Deus da Vida. Vou-te contar um segredo: a verdade é que já não percebo nada… Não percebo esta morte, não percebo estas injustiças… Sei que não fiz nada para a merecer, sei que não é vontade de Deus, e mesmo assim estou a breves momentos dela… Sei que o amor de Deus jamais me empurraria para isto. Sei que foi em seu nome que vivi, falei, libertei, curei, denunciei…

Não houve um passo na minha vida que não rasgasse caminhos novos da presença de Deus entre vós. Não houve uma palavra da minha boca que não revelasse a beleza escondida do rosto de Deus. Não houve um gesto da minha vida que não fosse expressão do encontro transformador de Deus com os corações atribulados.

E fui sentindo que muitas vezes esperavam de mim o que eu não era. Fui sentindo que muitos exigiam de mim o que Deus jamais me havia inspirado. Fui sentindo que aqueles que andavam sempre com a Lei de Deus na boca me perseguiam, julgavam e condenavam em nome dessa Lei. Porque, na verdade, a única coisa que eles conhecem é a Lei, não Deus. Diante desses peritos de uma Lei sem Deus, eu proclamei com todas as ganas do coração um Deus sem leis. E eles não gostaram…

Ontem tive a certeza absoluta de que o desenlace mortal desta aventura estava por horas… Tinha que decidir rápido. Fui para o Jardim das Oliveiras, à noitinha, com o teu tio, Tiago e João, porque me sentia muito só e triste. Mas não foram capazes de me acompanhar… Ainda estavam tão longe do meu coração que não entendiam nada do que estava a acontecer. Tinham os olhos tão cheios com o sucesso da manhã, quando entrámos na cidade, que não se apercebiam de que eu não os tinha preparado durante três anos para o que eles agora queriam que acontecesse. Então, fiquei só. Estava num beco sem saída. Tinha levado a paixão da minha vida longe demais, e já não podia voltar atrás. Ou deixava de ser quem era, anunciar o que amava, viver o que me animava, ou me matavam…

E eu amo a vida, Benjamim! Eu não queria morrer… Chorei, bati com os punhos no chão, enrolei-me sobre mim próprio como uma criança desesperada… Mas estavam em causa duas mortes. Ou me matava, ou me matavam! Sim, porque deixar de viver, anunciar, amar e agir como fazia não seria mais do que morrer…

No cume do desespero gritei com Deus: "Não! Não, Bom Deus, tem que haver outra saída… Pai, por favor…". Mas não havia. Não estava entre a espada e a parede; estava entre duas espadas. Passadas horas de solidão, sofrimento, desespero, oração… tudo começou a ficar mais claro. O Espírito da Paz começou a serenar o meu coração e eu compreendi que era altura de levantar a cabeça. Comecei a sentir-me mais forte e livre que nunca!

E dos meus lábios já não brotava o medo… "Bom Pai, ainda que me matem, não recuarei na Palavra que anuncio e na Vida que vivo em Teu nome! Ainda que me matem, não deixarás de contar comigo para proclamar a fidelidade ao Amor até às últimas consequências! Nas veredas que vamos abrindo na Vida, andar para trás, nem para ganhar balanço…"

Benjamim, no caminho da Fidelidade semeei a semente da Liberdade. Quando lhe colhi o fruto, tive nas mãos a espiga madura da Fortaleza. Fiel para ser Livre, Livre para ser Forte! Cada vez estava mais pacificado: "Prefiro morrer assim do que viver de outra maneira!"

Passado pouco tempo chegaram os soldados que me prenderam, liderados por Judas. Pobre Judas, como se desiludiu quando se deu conta de que eu não reagi aos soldados nem instiguei ninguém à revolução… Era esse o seu sonho desde jovem. E quis-me obrigar a ser o Messias que ele tinha na cabeça. Eu sei que ele me amava profundamente, e por isso tenho a certeza que agora está mergulhado num abismo de tristeza. Espero que não faça nenhuma asneira… ele é tão impaciente…”

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