O Segredo do Benjamim


Benjamim 10

10


Estavam já espetados no chão os três postes verticais que esperavam os condenados. Cada um diante do seu poste, foram atirados para o chão, de barriga para cima e braços abertos ainda amarrados à trave que já traziam aos ombros desde a cidade. Chegara a hora mais dolorosa da vida daqueles três homens. Os seus pulsos iriam ser pregados na madeira, e depois iriam ser assim suspensos ao alto, suportando o peso do corpo no lugar dos cravos. Uma vez levantados, ser-lhes-iam pregados também os pés, e assim ficariam. Até à morte…

Os soldados deixaram Jesus no chão, e dirigiram-se para um dos condenados, para dar início à crucifixão. Era já um ritual sabido de cor: desamarrá-lo da trave, despi-lo, pregá-lo e içá-lo. Pareciam já imunes aos gritos de dor e à visão do sangue a brotar das chagas.

O primeiro condenado a ser vítima deste ritual foi o tal com o olhar cheio de ódio e rosto assustador. Enquanto do seu rosto desaparecia o ódio para dar lugar ao medo e à dor, era a minha oportunidade de estar com Jesus. Estava ali sozinho, no chão, à espera… Quanto aos soldados, mesmo que me vissem com ele, o máximo que me fariam seria afastar-me com algum pontapé, mas não fariam muito mais que isso, porque eu era uma criança.

Corri apenas uns segundos e alcancei Jesus. Sentei-me no chão ao seu lado, encostado ao seu peito. No meio das suas dores e da sua tristeza, Jesus ainda sorriu ao ver-me, e falou-me:
- “Meu amigo Benjamim, fiel até ao último momento!”

- “Jesus, se eu fosse grande matava estes romanos todos e levava-te comigo para casa!”

Mas ele sossegou-me…
- “Benjamim, não é matando que transformamos; é vivendo de outra maneira. Nunca sonhei matar em nome da verdade; mas arrisquei-me a morrer em seu nome. E está quase…”

- “Jesus, o meu tio está desiludido contigo porque tu te recusaste a lutar. Para ele, e para os outros todos, teres chegado a este estado é a prova de que não és o Messias que eles esperavam. Por favor, Mestre, explica-me o que te vai no coração!”

- “Benjamim, tu ainda tens os olhos claros. Os que te rodeiam têm todos escamas nos olhos que lhes impedem ver as coisas tal como são. Querem que tudo seja como esperavam que fosse, e não compreendem que a acção de Deus é sempre desconcertante. Não compreendem que o dedo de Deus chega sempre mais longe que os olhares dos homens, que a Palavra de Deus tem sempre um horizonte mais largo que as esperanças humanas. Como lhes custa deixar que Deus seja Deus! Como lhes custa um Deus maior que a Lei, maior que as imposições e prescrições da tradição, alheio aos sacrifícios e holocaustos nos quais põem todo o esforço de conversão. Como se as transformações importantes na vida acontecessem a partir de fora… Como lhes custa, Benjamim, acolherem-me como tu...”

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