O Segredo do Benjamim


Benjamim 9

9

Deixei-me ficar para trás, e vi um grupo de mulheres que chorava. Conheci uma delas, e fui falar-lhe:
- “Tu não estiveste em Cafarnaum com Jesus? Não és Maria de Magdala?”

E ela, abraçada a uma outra mulher que chorava ainda mais, disse-me que sim com a cabeça.
- “E ela, quem é?”, perguntei eu, apontando…

Maria respondeu:
- “É a mãe de Jesus…”

Senti pena dela. Jesus era meu amigo. Como se sentiria uma mãe? Não tive coragem de lhe dizer nada… Perguntei antes a Maria de Magdala:
- “Achas que os discípulos dele ainda podem fazer alguma coisa?”

- “Com esses não contes”, respondeu. “Fugiram todos! Se eu fosse homem, eu teria sido o mais fiel dos seus discípulos. Mas que pode uma mulher fazer por um condenado à morte? Choro. Choro a morte injusta do homem que me fez renascer para a vida, que me libertou do que me mantinha escrava de mim própria e me fez saborear o lado de dentro da vida, onde o amor pode existir e ser verdadeiro, onde cada dia que passa não é uma maldição que se renova, onde a possibilidade de ser feliz está ao alcance da minha mão…”

- “Eu também gosto de Jesus”, disse-lhe eu. “E ele gosta muito de mim. Ainda há pouco, viu-me e disse o meu nome, e chamou-me amigo”.

Maria perguntou-me:
- “Como te chamas?”

- “Benjamim!”

- “Benjamim?! Jesus já nos falou de ti algumas vezes…”

- “Sim?!”, reagi eu admirado… “E o que disse?”

- “Falava-nos de ti quando nos queria contar algum segredo do Coração. Começava sempre assim: ‘Eu tenho um amigo em Cafarnaum que se chama Benjamim… é uma criança… tem os olhos grandes, vivos e brilhantes, sempre atentos às belezas simples e aos pormenores escondidos. Tem um Coração puro, sempre disposto a alegrar-se com os que se alegram e revoltar-se com os que são injustiçados. Tem uma coragem sincera, sempre a postos para levantar a voz a favor dos amigos maltratados. Tem um riso lindo, que vibra de entusiasmo com cada descoberta e novidade imprevista. Eu tenho um amigo chamado Benjamim que gosta de me escutar sem nunca me pôr em causa, sem nunca me julgar, nem esperar que a minha palavra coincida com as suas expectativas. Bem aventurados os que aprenderem a ver, amar e escutar como o meu amigo Benjamim!’
E dizia-nos muitas outras coisas a teu respeito. Ele gosta muito de ti…”

Eu não cabia em mim! Jesus amava-me mais do que eu podia imaginar. Agora, mais ainda me doía a sua morte. Não podia ser… Agradeci a Maria de Magdala o que me tinha contado, fiz uma carícia no rosto da mãe de Jesus, e corri novamente para a frente. Tive que ir furando novamente a multidão que seguia em procissão atrás dos condenados, e só consegui chegar junto de Jesus quando já estava no Gólgota.

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