O Segredo do Benjamim


Benjamim 8

8


Quando cheguei, todos se aglomeravam ao longo das duas bermas do caminho, criando um verdadeiro corredor da morte para aquele que tinha aberto aos corações acolhedores caminhos de vida.

Passado um pouco, a grande porta abriu-se, e vi saírem alguns guardas romanos. Depois, um primeiro condenado, já com a trave de madeira sobre os ombros. Era muito mais jovem que Jesus, e não me parecia ser capaz de fazer nada que merecesse tal morte. Tinha um olhar assustado e um rosto amedrontado. Foi fácil descobrir nos seus olhos um fundo de ternura e de verdade, e nos seus passos vacilantes a certeza de que no meio daquele espectáculo mortal não era ele o criminoso… Só Deus sabe porque teria ido acabar os seus dias naquela procissão.

Atrás dele vinha outro, já não tão jovem, talvez da idade de Jesus, mas com um semblante envelhecido pelo jeito como olhava. Tinha rancor no olhar e fixava as pessoas por quem passava de um modo que as assustava, mesmo preso e sob a trave horizontal que haveria de completar a sua cruz.

E, por fim, Jesus. Doeu-me por dentro vê-lo assim, com a trave de madeira a magoá-lo nas feridas já abertas pelo chicote. Caminhava com maior dificuldade que qualquer um dos outros, mas também era o único que deixava atrás de si um rasto de sangue. Não fitava ninguém. Sob o peso da trave, olhava apenas o chão que marcava com os passos. Nunca o tinha visto tão triste. Cheguei-me mais ao caminho, furei entre os soldados e chamei-o quase ao seu lado:
- “Jesus! Jesus!”

Ele olhou-me, sem deter os passos, e disse o meu nome devagar:
- “Benjamim; amigo…”

Sorri de contente, mas logo uma mão me agarrou a atirou para trás da escolta, caindo na berma.


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