O Segredo do Benjamim


Benjamim 5

5


Quando finalmente cheguei junto do meu tio abracei-me à cintura dele procurando a segurança que o meu coração precisava naquele momento. Mas ele deu um salto e ficou com um rosto ainda mais assustado que o meu. Ao ver-me, baixou-se para mim, e perguntou-me quase ofegante:
- “Que fazes aqui, Benjamim?”
- “Vim ver Jesus, tio. Por causa das mentiras dos nossos chefes os romanos bateram-lhe. Faz alguma coisa!”, e comecei novamente a chorar.

O meu tio abraçou-me forte, também ele com lágrimas nos olhos, e pediu-me por favor que falasse baixo para não chamar a atenção. Nunca tinha visto o meu tio chorar, mas o que me custava mesmo a entender era que ele estivesse com medo.

- “Tio, temos que dizer a verdade sobre Jesus. Eles estão todos a mentir! Nós sabemos a verdade, nós conhecemos Jesus; nós bem vimos lá em Cafarnaum como a primavera despontava nos corações daqueles que com ele se encontravam. Nós somos testemunhas dos sorrisos que nasceram nas vidas de tantos dos nossos amigos que antes viviam esmagados sob pesos e problemas dos quais Jesus os libertou. Tu bem o ouviste dizer palavras de Vida Nova que transformavam os corações disponíveis. Tu bem sabes como ele me acolhia, me sentava no colo, conversava e brincava comigo, mesmo quando tu me repreendias por eu andar sempre a furar no meio da multidão para o ver e ouvi-lo chamar-me. Ó tio, tu deixaste Cafarnaum para o seguires por onde ele fosse. Mesmo quando ele despedia as multidões para ficar só, tu permanecias com ele. Escutaste dos seus lábios os segredos mais profundos do seu coração. Porque te calas agora?”

E o meu tio ficou em silêncio…

Parecia que, num momento, toda a multidão tinha desaparecido e restávamos nós os dois, sozinhos, ao fundo de uma escadaria que precisávamos de subir para libertar Jesus. Então, olhou-me como nunca tinha feito antes, num misto de medo e tristeza, e disse-me com a voz entrecortada:

- “Benjamim, és tão novo… Para ti é tudo tão fácil… basta seguires o coração. Quando cresceres vais ver que o coração falará mais baixo e tantas outras vozes te gritarão aos ouvidos. Eu amo Jesus! Bem o sabes. Não podes imaginar como me dói vê-lo ali assim maltratado. Não poderás nunca imaginar como me despedaçou por dentro quando há pouco o seu olhar pousou sobre mim… Eu amo-o, mas já não é possível segui-lo e já não vale a pena lutar por ele. Ele não é quem nós esperávamos… Fez-nos acreditar que era o Messias, o Esperado de Israel, o Ungido de Deus para libertar e reunificar o reino do nosso pai David. Quando às vezes nos entusiasmávamos mais, ele abrandava-nos os ânimos e mostrava-nos que queria ser um Messias diferente do que esperávamos. E nós íamos percebendo que ele estava à espera do momento certo…

Houve momentos de impaciência e entusiasmo… Até que ontem, naquela entrada triunfante que fizemos em Jerusalém vimos o sinal claro de que tudo estava pronto! Depois, Jesus entrou no átrio do templo e purificou-o à vergastada e chicotada, diante de todo o povo, sob os narizes empinados dos sumo-sacerdotes e dos doutores da Lei. O povo intimamente rejubila… Nós intimamente esperamos… ‘É agora’, vamos sussurrando uns aos outros enquanto seguíamos Jesus ao fim do dia…

Durante a noite tudo se precipitou! O Judas, desta vez não conteve a impaciência e foi buscar os principais rivais de Jesus, que o queriam prender. Todos sabíamos que era o momento certo da libertação do povo liderada pelo Messias, e estávamos certos de que Jesus também o sentia. Mal eles chegaram, reagimos. Eu fui o primeiro a puxar da espada e a ferir um centurião romano. Estava pronto! Mas Jesus… mandou-me parar, curou-o, mandou-me guardar a espada, e entregou-se sem resistir nem lutar. Todos, de espada na mão, ficámos paralisados. O que estava ele a fazer?! O Messias tinha que lutar! A espada mataria em nome de Deus e daria a vitória da liberdade ao seu povo, como tinha feito David. Mas Jesus entregou-se como qualquer um…

Durante três anos o seguimos na certeza de que era o Messias… Agora, calados e amedrontados entre a multidão, vemo-lo o mais maltratado dos homens, às mãos de soldados romanos e chefes mentirosos a quem ele tantas vezes chamou hipócritas. Como qualquer um… Benjamim, olha para ele! Olha-o, e diz-me se pode ser ele o Messias dos judeus…”

Não precisei de olhar. Sem me mover, respondi ao meu tio:

- “Talvez não seja o Messias dos judeus, mas não duvido de que é o Messias de Deus! Não é o Messias que os fariseus e os doutores da Lei esperavam; por isso lhe estão a fazer isto. Mas, quanto a ti… Pensei que estivesses mais atento aos sinais que Deus te deu através dele do que às tradições que tens na cabeça de que o Messias havia de ser como tu o esperavas. Agora percebo porque é que a minha mãe me contou que o Mestre uma vez te tinha chamado ‘Satanás’ e te tinha dito que tu só conseguias ver com os olhos dos homens e não com os olhos de Deus… e continuas.”

O meu tio apertou-me os braços com força:
- “Cala-te Benjamim! Cala-te; não passas de uma criança! Eu amo-o. É a pessoa mais especial que já conheci na vida. Não estou arrependido de o ter seguido estes três anos. Não estou arrependido, mesmo não sendo o Messias. Mas estou desiludido. O meu coração sente-se traído…”

Baixei os olhos.

A verdade é que eu também não percebia o que estava a acontecer…



1 Comentários a “Benjamim 5”

  1. # Anonymous Hugo Pena

    Porque temos nos que seguir as frases que nos entram nos ouvidos em vez de seguirmos o nosso coração?
    Por isso Jesus ama as crianças de uma maneira especial.
    Ele que nos sussurra ao coração, para que possamos ver mais alem...
    Obrigado Benjamim por me mostrares que devemos ver com o coração...
    Obrigado por Partilhares o Vosso segredo de que o Amor Venceu.
    Grande Abraço.  

Enviar um comentário






© 2008 O Segredo do Benjamim | Blogger Templates by GeckoandFly.
No part of the content or the blog may be reproduced without prior permission