O Segredo do Benjamim


Benjamim 2

2
Sabia que a desobediência me ia sair bem cara, mas saí de casa. Ao abrir a porta dei-me conta que várias pessoas corriam na direcção do palácio do governador romano enquanto falavam de Jesus. Meti-me no meio da multidão e fui com eles…

Quando cheguei lá, havia tanta gente que não conseguia ver nada. O coração quase me saltava do peito com tanta coisa junta que estava a sentir. Medo, ansiedade, entusiasmo, expectativa… Eu só queria ver Jesus. Mas mergulhado na multidão ninguém o vê nem o escuta. Comecei a furar, serpenteando entre os corpos pesados que já se tinham aglomerado ali desde cedo, até que, finalmente, consegui sair da multidão e ficar à frente, escondido atrás de uma coluna.

Todo o povo estava no átrio que ficava ao fundo de uma escadaria, no cima da qual estavam guardas romanos e uma cadeira luxuosa. À frente da multidão estavam vários chefes dos fariseus e dos sumo-sacerdotes. Mas não estavam só eles… Olhei por cima das cabeças da multidão, da coluna onde estava, e vi vários fariseus e doutores da Lei que conhecia de Cafarnaum e ali de Jerusalém espalhados no meio do povo. Eu não conseguia perceber o que estavam a preparar, mas reparei que entrecruzavam os olhares permanentemente, como que na iminência de que alguma coisa acontecesse…

De repente, todos se começaram a agitar. Olhei para o topo da escadaria e vi dois guardas a chegar, depois um homem vestido com roupas importantes que se sentou na cadeira e que eu percebi que era o tal governador romano de quem apenas sabia que se chamava Pilatos, e depois…

Só me lembro que mal o vi baixei os olhos de susto e comecei a chorar e a chamar nomes baixinho a quem lhe tinha feito aquilo. Tinham batido em Jesus!


Fez-se entre a multidão um silêncio de espanto, mas logo os fariseus, sacerdotes e levitas o quebraram começando com o seu alarido do costume:

- “Blasfemo, falso profeta, carpinteiro armado em Rabbi, perturbador do povo…”

E a multidão começou a acompanhar estas vaias a Jesus. O costume das multidões…

Limpei as lágrimas e ganhei coragem para levantar os olhos novamente. A túnica de Jesus estava suja de sangue, rasgada nos ombros por golpes de chicote, e o seu rosto estava macerado como nunca tinha visto o de ninguém. Ao olhar para o seu rosto assim, lembrei-me de tantos rostos que vi transformarem-se em Cafarnaum à passagem de Jesus. Quantos sorrisos nasceram em rostos que só conheciam a tristeza, quantos olhares voltaram a brilhar entre as rugas de gente já sem esperança, quantas dores do coração foram aliviadas na escuta da palavra libertadora daquele profeta diferente, quantas angústias escondidas foram saradas pelo olhar benevolente do Mestre que rasgava com os seus passos caminhos novos de alegria, libertação e vida renovada na fé, na esperança e no amor!

Mas havia sempre lá no meio aqueles cujos rostos não se transformavam… porque o que manda no rosto é o coração. E foram esses que o acusaram e o entregaram aos romanos… e fizeram aquilo ao rosto de Jesus…

Apetecia-me correr a escadaria e fazer igual àqueles soldados, libertar as mãos de Jesus das cordas e levá-lo comigo para minha casa em Cafarnaum, onde o protegeria para sempre. Mas…

Mas não consegui fazer mais do que colocar novamente a cabeça entre as mãos e chorar como um menino de onze anos…

1 Comentários a “Benjamim 2”

  1. # Anonymous Rafaela

    Quando te conheci Benjamim, pelo teu 1o. relato, eu disse que tinha gostado de te conhecer e que iria voltar... Mas, olha... esqueci-me... Fico-me sempre pelo texto principal do D.M. ... Hoje, não sei bem porquê, resolvi dar uma olhadela pelos Links, assim, como quem vai a uma livraria ou biblioteca e pega num livo aqui, em outro ali e... quando dá conta já passou um "ror" de tempo... Até andei pelas Constituições dos Redentoristas... Imagina lá... até achei graça, que estas coisas antigamente, eram mesmo reservadas e escondidinhas de todos. Mas, ao dar de frente contigo, Benjamim... vi que não tinhas comentários... E pensei... bolas.... eu esqueci-me, mas ninguém cá veio mais... E fiquei um pouco triste... E relacionei com o texto do Blog, sobre o que é SER ALGUÉM... parece que ninguém te deu importância, inclusivé eu... que já me tinha esquecido de ti... E se tu és uma personagem fascinante!... Fascinante mesmo!... Agora que estamos em pleno tempo quaresmal, dá bem para imaginar-te... para imaginar o que se passou contigo e com Jesus... eu até penso... o que se passa agora... o tempo para Deus é um Eterno Presente... então, é agora que tudo acontece... que tudo se passa... nós estamos contigo, somos outros tantos Benjamins atentos ao que se passa ou alheios e cépticos com o que se passa com Jesus... Não sei, Benjamim, se me entendes... mas o que eu queria mesmo, era estar do teu lado... porque nesse caso, eu estava mesmo do lado de Jesus e a torcer por Ele... Benjamim, se encontrares o Pe. Rui, em toda essa confusão, não o percas de vista... a gente precisa dele ... e muito. Beijinhos. Rafas  

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