O Segredo do Benjamim


Benjamim 3

3
De repente, Pilatos levantou-se e a multidão calou-se. Ninguém o amava, ninguém o respeitava, mas todos o temiam… E com um ar trocista disse à multidão:
- “Ouvi dizer, ó judeus, que este é o vosso Rei!”

Eu estava já pronto para saltar de trás da minha coluna e gritar em coro com toda a gente: “Sim, sim, Jesus é o nosso Rei, o Messias que esperávamos!!!”, mas, do meio daquela gente toda de olhos esbugalhados e ideias amarradas, os fariseus começaram a gritar:
- “O nosso rei é César! Viva César!”
E em poucos segundos todos gritavam Vivas a César de punho levantado.

Eu fiquei sem reacção. Sentia que estava a ser mergulhado na maior desilusão da minha vida. Olhei para Jesus, no meio da gritaria, e parecia ser ele o único que estava calmo.

Enquanto os judeus gritavam e os romanos sorriam, Jesus tinha levantado os olhos e pousava o seu olhar sobre a multidão. Eu observava-o… e vi que se detinha a olhar para alguns rostos de maneira especial, como que conversando, enquanto o seu semblante se carregava de uma tristeza atroz. Foram apenas alguns segundos, mas a mim pareceram-me dias…

Depois, com um simples movimento de braços, Pilatos calou a multidão e pôs-se a falar com os chefes religiosos do povo, num julgamento de faz de conta. Jesus voltou a baixar os olhos, fixando-os na roda de sangue que tinha já em torno dos seus pés.

Então, eu olhei melhor para os rostos da multidão e percebi o porquê dos olhares tristes de Jesus. Reconheci tantas caras… Tantos no meio da multidão tinham seguido Jesus durante dias, escutando-o e deixando-se libertar por ele. Vi muitos vizinhos e conhecidos de Cafarnaum que conviveram com Jesus nas suas idas à cidade, e que no calor das suas pregações o chamaram de Profeta, Messias, filho de David, Rei de Israel… tantas coisas…

E no dia anterior? Todos esses e muitos mais tinham recebido Jesus com palmas, danças e aclamações de festa quando ele estava a entrar em Jerusalém. Eu estava no átrio do Templo e dei-me conta da algazarra. Corri e vi o corredor que se abria diante de Jesus e do jumentinho em que vinha sentado. Eu vi! Todos cantavam, todos aclamavam: “Bendito o que vem em nome de Deus! Bendito o filho de David que vem a nós!”. Todos, em multidão… como agora…

Tantos rostos que agora via ranger os dentes contra Jesus eu tinha visto no dia anterior a aclamá-lo… E continuava a correr os olhos pelos rostos da multidão, encontrando tantas histórias, tantos encontros, tantos olhares familiares…

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